quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

2012, o Ano em que Eu Não Fui ao Cinema


Foi na longínqua década de 1990 que fui ao cinema pela primeira vez. Ali, na esquecível sessão de “Júnior” (sim, aquele filme do Schwarzenegger grávido¬¬), eu sabia que se iniciava uma relação inesquecível entre mim e o cinema. Naquele começo de relacionamento não havia grandes metas nem planos concretos, mas era certo que eu desejava ir e ir sempre e sempre mais e mais ao cinema. E assim foi! Ano após ano, filme após filme. Até chegar 2012.

2012 foi Timor-Leste e sua intensidade.
Uma vida dentro de alguns meses.
A sensação de ver bem de perto a mudança social. “Mudança” que não necessariamente significava “melhoria”.
E algumas dúvidas:
Ukun-hasik-an (independência, autodeterminação) ou neocolonialismo?
Hamutuk ita bele... ka lae? (Juntos nós podemos... ou não?)

Seja lá qual for meu balanço em meio a tantas conclusões em aberto, uma coisa é tão certa que até foge desses amplos temas: tive que “dar um tempo” na minha relação com o cinema. Ou melhor... com o ato, o ritual de ir ao cinema.

No começo foi difícil. Acompanhava notícias e críticas (um oferecimento www.cinemaemcena.com.br) sabendo que não veria aqueles filmes em cartaz. Mas, com o tempo, percebi que Timor é capaz de nos envolver de tal forma, que estar lá e sentir qualquer necessidade de ir ao cinema mostra-se apenas como vontade remanescente de nossa vida anterior. Porém, como tal imersão já tinha data certa para acabar desde o seu início, findei por resolver a contradição no relacionamento como uma espécie de férias. Pois é... numa vida você tira férias e vai ao cinema, na outra você tira férias do cinema.

Agora, relativizando a suposta “falta de necessidade” de ir ao cinema, pontue-se que o dito cujo até que esteve bem presente em minha vida timorense. No tocante ao trabalho, foi prática comum entre o grupo de professores usar filmes em suas aulas. Para além dessas iniciativas individuais, em setembro houve também uma ação maior na qual foram exibidos filmes brasileiros aos alunos timorenses. O mote era marcar o mês da Independência do Brasil. A ideia foi dos queridos Verônica Lima e Guilherme Dias com o apoio da Embaixada brasileira sediada em Dili. Os quatro filmes escolhidos foram : “2 Filhos de Francisco”, “Lisbela e o Prisioneiro”, “O Ano em que Meus País Saíram de Férias” (qualquer coincidência com o título deste post será mera semelhança, rsss...) e “Os Narradores de Javé”. Os destaques foram para “2 Filhos...” que já era bem conhecido e querido pelos alunos e também foi o filme que causou mais arrepios e chororô entre os professores participantes - foi algo como a saudade de casa tornada líquida; e “Lisbela...”, que contou com todo um trabalho de escurecimento da sala de exibição. Ah! Este post traz mais sobre arrepios, tremeliques e lágrimas no cinema: http://marcelolar.blogspot.com.br/2009/09/snif.html

Em outra esfera de vivência com o cinema no Timor, tenho que fazer uma menção honrosa às ótimas sessões domésticas junto a alguns queridos amigos.

Como deu pra ver, meu relacionamento com o cinema em 2012 não foi de total ruptura. Porém, agora estando de volta ao Brasil, urge uma retomada com relação à ida ao cinema, à imersão no ambiente magificado. Sim, eu poderia fazê-la agora, nos últimos dias do ano, porém, senti que deveria reservar todo o ano de 2012 para figurar como “o ano em que eu não fui ao cinema”... para que essa abstinência pudesse ser tão significativa quanto à “primeira vez”... Aliás, agradeço aos amigos e seus diversos convites e peço perdão pelas recusas. Sei que vocês me entendem.

Mas, anotem aí: o reenlace se dará nos primeiros dias de 2013, ok!?

Update: há poucos dias foi inaugurado o 1º cinema de Timor-Leste