Foi na longínqua década de 1990 que fui ao cinema pela primeira vez.
Ali, na esquecível sessão de “Júnior” (sim, aquele filme do Schwarzenegger grávido¬¬), eu sabia que
se iniciava uma relação inesquecível entre mim e o cinema. Naquele começo de
relacionamento não havia grandes metas nem planos concretos, mas era certo que
eu desejava ir e ir sempre e sempre mais e mais ao cinema. E assim foi! Ano após ano,
filme após filme. Até chegar 2012.
2012 foi Timor-Leste e sua intensidade.
Uma vida dentro de alguns meses.
A sensação de ver bem de perto a mudança social. “Mudança” que não
necessariamente significava “melhoria”.
E algumas dúvidas:
Ukun-hasik-an (independência,
autodeterminação) ou neocolonialismo?
Hamutuk ita bele... ka lae?
(Juntos nós podemos... ou não?)
Seja lá qual for meu balanço em meio a tantas conclusões em aberto, uma
coisa é tão certa que até foge desses amplos temas: tive que “dar um tempo” na minha relação com o
cinema. Ou melhor... com o ato, o ritual de ir
ao cinema.
No começo foi difícil. Acompanhava notícias e críticas (um
oferecimento www.cinemaemcena.com.br) sabendo que não veria aqueles filmes em
cartaz. Mas, com o tempo, percebi que Timor é capaz de nos envolver de tal forma,
que estar lá e sentir qualquer necessidade de ir ao cinema mostra-se apenas
como vontade remanescente de nossa vida anterior. Porém, como tal imersão já
tinha data certa para acabar desde o seu início, findei por resolver a
contradição no relacionamento como uma espécie de férias. Pois é... numa vida
você tira férias e vai ao cinema, na outra você tira férias do cinema.
Agora, relativizando a suposta “falta de necessidade” de ir ao cinema,
pontue-se que o dito cujo até que esteve bem presente em minha vida timorense. No tocante ao trabalho, foi prática comum entre o grupo de professores
usar filmes em suas aulas. Para além dessas iniciativas individuais, em
setembro houve também uma ação maior na qual foram exibidos filmes brasileiros
aos alunos timorenses. O mote era marcar o mês da Independência do Brasil. A
ideia foi dos queridos Verônica Lima e Guilherme Dias com o apoio da Embaixada
brasileira sediada em Dili. Os quatro filmes escolhidos foram : “2 Filhos de
Francisco”, “Lisbela e o Prisioneiro”, “O Ano em que Meus País Saíram de Férias”
(qualquer coincidência com o título deste post será mera semelhança, rsss...) e
“Os Narradores de Javé”. Os destaques foram para “2 Filhos...” que já era bem conhecido e
querido pelos alunos e também foi o filme que causou mais arrepios e chororô
entre os professores participantes - foi algo como a saudade de casa tornada líquida; e “Lisbela...”, que contou com todo um
trabalho de escurecimento da sala de exibição. Ah! Este post traz mais sobre arrepios,
tremeliques e lágrimas no cinema: http://marcelolar.blogspot.com.br/2009/09/snif.html
Em outra esfera de vivência com o cinema no Timor, tenho que fazer uma
menção honrosa às ótimas sessões domésticas junto a alguns queridos amigos.
Como deu pra ver, meu relacionamento com o cinema em 2012 não foi de total
ruptura. Porém, agora estando de volta ao Brasil, urge uma retomada com relação à ida ao cinema, à imersão no ambiente magificado.
Sim, eu poderia fazê-la agora, nos últimos dias do ano, porém, senti que
deveria reservar todo o ano de 2012 para figurar como “o ano em que eu não fui ao
cinema”... para que essa abstinência pudesse ser tão significativa quanto à “primeira
vez”... Aliás, agradeço aos amigos e seus diversos convites e peço perdão pelas
recusas. Sei que vocês me entendem.
Mas, anotem aí: o reenlace se dará nos primeiros dias de 2013, ok!?
Update: há poucos dias foi inaugurado o 1º cinema de Timor-Leste